A Fome na Maior Favela de São Paulo
Quem são esses brasileiros que passam fome? Como é a situação diária dessas famílias? A fome tem nome, rosto e endereço, principalmente nas favelas.
A fome está aí, mas será que realmente olhamos para ela como deveríamos? Em 2022, no Brasil foi constatado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) que 33,1 milhões de brasileiros passam fome, são 6,8 milhões de pessoas apenas no estado de São Paulo nesta situação. 125,2 milhões de pessoas vivem com algum grau de insegurança alimentar no país, ou seja, mais da metade da população, mas a pergunta aqui é quem são esses brasileiros? Como é a situação diária dessas famílias?
Em Heliópolis diversas famílias vivem isso que podemos chamar de terror, já que não tem certeza se terão o que comer amanhã ou até mesmo se terão que escolher se moram ou se comem. O dia a dia de cada uma delas é sempre uma imprecisão, Mônica de Souza Silva de 39 anos , que é mãe solo de cinco filhos de idades diferentes contou que “Vivo muito de doações, sou desempregada mas faço bicos de diarista, mas ainda tenho que comprar leite, fraldas, fazem muitos anos, não sei quantos anos fazem que não compro roupas para meus filhos porque tenho que alimentá-los e pagar meu aluguel.”, são vidas como a de Mônica que a pesquisa fala, de mães que não comem para ter comida para alimentar seus filhos, que não tem carne mas tem ovo juntando suas moedas, ela ainda revelou que recebe ajuda do governo mas que não é muito efetivo como necessita “Recebo auxílio de R$600 mas meu aluguel é de R$750, então o que eu recebo vai tudo pro aluguel, não tem como fazer outras coisas e eu sinto que o valor aumentou por conta das eleições, mas meus filhos às vezes só tem arroz e feijão para comer, mas tentei criá-los sem querer muito e se contentar com o que tem, então eles entendem nossa situação.”
Mônica de Souza após conseguir uma cesta de alimentos de doação por meio da UNAS
3 em cada 10 famílias do Sudeste conseguem acesso pleno a alimentos, só no último ano de 9% dos domicílios com moradores passando fome, saltamos para 15,5%, esses dados nos revelam o quanto a classe alta se distancia cada vez mais da classe baixa e que a classe média esquece que ainda tem que trabalhar para se sustentar, mesmo não vivendo com nenhuma insegurança básica. Famílias como a de Mônica nos exibem o retrato da insegurança alimentar, mas a família de Cristina Santos da Silva, de 24 anos, que também mora em Heliópolis e é mãe de dois filhos revela a veracidade de todos esses dados, já que tem que arcar com aluguel e fraldas para as crianças, já passou e passa fome em alguns momentos.
“Já fiquei seis dias sem comer, não consigo trabalho, faço bicos e meu marido também, tenho minha mãe mas ela cuida dos cinco filhos da minha irmã falecida então nos ajudamos como podemos já que não temos uma fonte de renda.”, mostrando que 6 de cada 10 lares comandados por mulheres convivem com a insegurança alimentar. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Isso ocorre, entre outros fatores, pela desigualdade salarial entre os gêneros. São nesses momentos em que famílias como a dela dependem de ações sociais como as CEIs e CCAs onde seus filhos ficam parte do dia e tem alimentação integral e com segurança “Quem me ajuda hoje é o CCA e a creche da UNAS, eles sabem o que eu passo e me ajudam como podem, sou muito grata por ter eles, lá não tenho que esconder o que passo." completou ela.
O Brasil já foi referência internacional no combate à fome. Entre 2004 e 2013, políticas públicas de erradicação da pobreza e da miséria reduziram a fome para menos da metade do índice inicial: de 9,5% para 4,2% dos lares brasileiros. Hoje, infelizmente, o país é outro. A fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos, passando de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022, as famílias nesse caso não têm garantia de alimentação, moradia, saneamento, vestimenta ou necessidades para as crianças como leite ou fralda. 15,6 milhões de brasileiros estão inseridos numa rotina desumana e inaceitável para obtenção de alimentos, já que muitas vezes não tem escolaridade nem acesso à informação de qualidade.
A precarização da vida, sem suporte adequado e efetivo de ações do Estado teve reflexos diretos na capacidade de acesso à alimentação suficiente e adequada pelas famílias brasileiras, constituindo uma violação de um preceito constitucional. A má gestão pública da pandemia no Brasil é um fator agravante desse cenário pré-existente, se você tem condições e ou acesso ajude quem precisa, todos podemos transformar realidades, não se acostume com essa situação, #AFomeNãoEspera.