A origem do bloco de rua formado por crianças e adolescentes na Maior Favela de SP
A UNAS acredita que a rua é um espaço de convivência, é um espaço educador, onde as pessoas transitam, circulam e, inclusive, produzem cultura. É sobre essa perspectiva que, em 2009, o coletivo “Lata na Favela”, que oferecia oficinas de percussão utilizando latas de tintas vazias, em conversa com José Genário, um dos diretores da UNAS, junto ao percussionista Fernando Alabê, decidiu criar um bloco de rua com a criançada, envolvendo os projetos sociais, escolas e a comunidade. Assim, juntando Folia + Heliópolis, surgiu o bloco “Foliópolis”.
“Tem gente que acredita, ou pensa, que gente da favela e das comunidades não produzem coisas interessantes, não produzem cultura. Então, a nossa ideia é desafiar isso e produzir cultura. Nós vamos trazer um pouco desse resgate das festas, usar a rua como espaço de convivência, espaço de manifestação popular, tirar um pouco aquela coisa de: ‘Menino, não vai para a rua, não! A rua não é seu lugar, fica trancado." — ressalta José Genário, ao lembrar da origem, do sentido e da importância do Foliópolis.
Dezesseis anos depois, esse entusiasmo de ocupar as ruas com cultura, educação e promoção dos direitos humanos está expresso no trabalho dos Centros para Crianças e Adolescentes, como conta Katia Rodrigues: “Através do lúdico, através da diversidade, a gente vai pra rua com essa alegria, mas reivindicar algo, né? Como direito à cultura, direito ao lazer, direito à diversão, direito à questão do ‘não é não’, né? Isso traz também a questão do respeito ao corpo da mulher. Mas, para que tudo isso aconteça, a gente sempre tem o trabalho pedagógico dentro do CCA. Então, as crianças já vão preparadas. No dia do Foliópolis, é uma agitação total dentro do CCA, né? Colocando as fantasias, fazendo maquiagem, fazendo cabelo... É muito bom, gente!”
Fernando Alabê, que tem uma trajetória de vida dedicada ao carnaval, à defesa da cultura e dos direitos da população negra, ressalta o simbolismo e a importância que o Foliópolis tem, não só para a Favela de Heliópolis, mas também como exemplo do verdadeiro sentido de se brincar o carnaval: “O Bairro Educador, né? Todo mundo educa. Inclusive as crianças educam o bairro, né? Então, nesse momento em que as crianças estão ocupando aquele lugar, que é o lugar do fluxo, por assim dizer, do andar e dos fluxos, certo? As crianças ocupam aquilo com cultura e educação, através do lúdico.”
A cultura, por meio da música, da arte e da expressão, tem um papel transformador nas periferias, pois cumpre um papel de reconhecimento e resistência. Alabê destaca que é necessário haver apoio e investimento para a continuidade dessas ações: “A cultura e a arte têm o poder de sensibilizar a pessoa e tornar a pessoa crítica, certo? E, nessa criticidade, é entender o que ela aproveita de cada coisa que o mundo traz para ela e o que ela transforma. Porque a cultura e a arte são transformadores. São elementos transformadores do indivíduo e da sociedade. Então, elas têm que ser apoiadas, né? Têm que ser apoiadas.”
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