Casa Sonia Maria Batista acolhe e ajuda mulheres vítimas de violência
Após sofrer 50 anos de violência domestica, Dona Elisa encontra apoio em projeto para mulheres
O mês da Mulher é comemorado em Março mas nem sempre lembramos que esse mês é fruto de muitas lutas, diversas mulheres ao decorrer da história sofreram e sofrem ainda com o machismo e a misoginia diariamente. Hoje na UNAS temos a Casa Sonia Maria Batista que é um Centro de Defesa e Convivência da Mulher, que tem como objetivo oferecer atendimento social, psicológico, orientação e encaminhamento jurídico a mulheres vítimas de violência doméstica e em situação de vulnerabilidade social, disponibilizando condições para o fortalecimento de sua autoestima e autonomia pessoal, social e econômica para a superação da violência e para mostrar a importância de projetos sociais e politicas públicas como o CDCM hoje vamos contar a história de Elisa, uma senhora de 67 anos que viveu cerca de 50 anos de violência doméstica.
Dona Elisa, como é conhecida, é moradora da região do Sacomã e nos contou sua história emocionada. Ela começou a trabalhar muito nova com seus 14 anos de idade e não muito tempo depois se casou, seu casamento foi sempre conturbado e seu ex-companheiro é um alcoólatra, durante seu relato nos contou que foram anos de muita violência e abusos, seu então marido por diversas vezes a diminuía e a agredia, mas mesmo assim ela cuidou dele quando chegava em casa machucado em decorrência do vício. Foram anos muito difíceis para ela.
Depois de muitos abusos psicológicos e físicos, Elisa pensou em procurar ajuda, é quando ela tem o primeiro contato com a Casa Sonia Maria Batista através de um encaminhamento feito pelo Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, mas é importante falar também que o serviço funciona também com demandas espontâneas e não só com encaminhamentos, quando conheceu o Centro de Defesa e Convivência da Mulher foi um encontro, consigo mesma e com outras mulheres que puderam acolhê-la de uma forma que nunca havia sido antes “Aqui eu tenho apoio e ajudam muitas outras mulheres, as pessoas acham que a violência não é nada, mas é muita coisa e gera sequelas, aqui tenho muitos esclarecimentos sobre meus direitos que não tinha fora daqui” contou ela sobre sua chegada no serviço.
O ciclo de violência vivido diariamente por uma parcela alta das mulheres na sociedade é um momento muito delicado, muitas delas não conseguem perceber o que estão passando, mas esse ciclo é dividido em três momentos: A fase da tensão é aquele momento em que você vai percebendo que a relação com o agressor está caminhando em uma corda bamba, ainda não houve o ápice da violência, mas existe um clima estranho, por exemplo, o ciúmes passa a ter uma cara mais presente na relação, o controle e a vigilância, você precisa se justificar o tempo todo. E nesse período, muitas vezes, até a violência verbal, os xingamentos, a irritabilidade aparecem. E isso vai se intensificando e caminhando para a explosão, muitas vezes isso é só visto como um conflito do casal e normalmente esse comportamento do homem é justificável por fatores externos, então ele está cansado pelo trabalho ou não está em um bom dia, nesse período as mulheres que estão nessa fase acham que é normal, que isso acontece em todas as relações, mas não, isso não é normal e ao menos não deveria acontecer.
Em seguida caminhamos para outro momento, a fase da explosão é aquele momento onde de fato a violência acontece. E quando falamos violência, não necessariamente é a violência física pois em alguns casos ela nem aparece. Mas é aqui que o agressor explode e violenta essa mulher seja de forma física, seja através de uma ameaça, seja quebrando objetos pela casa. Não tem um comportamento padrão e único para todos os homens, mas, aqui é o momento onde a mulher geralmente percebe que não está segura e se sente confusa e com medo. É nessa fase, que normalmente o serviço é procurado, no ápice da violência. Aqui nesta fase é o momento que Elisa chega ao Serviço, mesmo com muitos anos de casados ela não conseguiu se livrar facilmente deste período violento.
Porém, após essa explosão, após o agressor perceber que essa mulher está se afastando por esse comportamento inicia uma nova fase, a fase da lua de mel que é normalmente nessa fase que a mulher se afasta do serviço. Pois é o momento, onde a relação entre vítima e agressor se estreitam ainda mais, e aquele que foi violento passa a assumir uma postura diferente, mais amorosa, cuidadosa e com expectativas que as coisas melhorem. Nesse período é onde diversas dessas vítimas acreditam que as coisas realmente vão mudar, é aqui que diversas delas começam a acreditar que o agressor por conta própria irá mudar, mas não foi o caso de Dona Elisa, que como foi dito ficou na fase da explosão por muito tempo, ela teve duas costelas trincadas, braço quebrado e metade do rosto congelado após ter 02 AVCs decorrentes de violências, “Eu não tinha contato com mulheres que sofreram com isso, não sabia o que era ansiedade e depressão, não sabia que isso também é violência além de ele me bater, e consigo hoje identificar o que me faz mal e acima de tudo saber sobre os meus direitos” detalhou ela sobre a descoberta do ciclo de violência em que vivia.
Elisa está no serviço há cerca de 03 anos, lá ela conseguiu identificar as violências que sofreu, e acima de tudo se reconhecer como a mulher que é, em sua totalidade “Me ajudam principalmente psicologicamente, aqui eu vejo outras mulheres, eu cheguei aqui só o pó, mas agora eu faço o que eu quero, na hora que eu quero” detalhou ela sua experiência na Casa Sonia Maria Batista, ela não tinha contato com mulheres que sofreram com isso, não sabia o que eram essas violências, com a ajuda do serviço Dona Elisa conseguiu sua medida protetiva e conseguiu quebrar seu ciclo de violência e foi com a ajuda dessas mulheres do serviço que conseguiu sobreviver “Foi muito importante a medida protetiva pra mim, me senti com direitos, me senti protegida e como me foi informado eu não deixo ele entrar em casa pra nada, me cuido pra que isso não aconteça” completou ela.
Caroline de Paula Pinto, gestora do projeto acompanhou nossa entrevista e disse: “Pensamos na Elisa com muito carinho, ela sempre vem para a oficina de afeto e o quanto esse espaço é importante para ela, romper o ciclo nem é sempre separar é se auto conhecer. A escuta do CDCM é qualificada e nós temos e damos voz a elas”. O Centro de Defesa e Convivência da Mulher Sônia Maria Batista, é um projeto desenvolvido pela UNAS em convênio com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Cidade de São Paulo e fica aberto de Segunda a Sexta, das 08h às 18h, localizado na Rua Ribeiro do Amaral nº 136 - Ipiranga, e está sempre de portas abertas para acolher e ajudar qualquer mulher que sofre algum tipo de violência. Se você é uma mulher que se identificou com o que foi contado aqui ou conhece alguém que está em alguma das fases do ciclo de violência apareça no serviço ou entre em contato pelo (11) 3473-5569. Estamos juntas e unidas para que as mulheres sobrevivam e acima de tudo tenham seu direito mais básico garantido, o direito à vida.