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Infâncias em territórios periféricos é tema de pós graduação em Heliópolis

Curso pioneiro de pós gradução produz conhecimento sobre as infâncias periféricas,

aulas acontecem dentro da Maior Favela de São Paulo.

 

Quando pensamos em educação, a escola já vem na cabeça, mas será que as escolas estão preparadas para um ensino com equidade? E como pensamos em um ensino assim? Que contemple o território do aluno e compreenda suas vulnerabilidades. Pensando nisso a UNAS em uma parceria com a Universidade Federal do ABC, através de uma emenda parlamentar do até então Deputado Alexandre Padilha, hoje Ministro das Relações Internacionais criou um curso de pós graduação dentro da favela, para promover a reflexão, o debate e produzir conhecimento sobre as infâncias periféricas.

A pós graduação em Infâncias Periféricas é uma extensão da graduação visando primeiramente a continuidade dos estudos de uma gama de profissionais de educação de Heliópolis e comunidades do entorno, mas também um horizonte de possibilidades de quando se fala em infância e periferia,“A Infância é uma construção histórica, nem sempre teve infância, como conhecemos hoje. A infância periférica está localizada na falta de direitos da criança, na luta pela garantia de direitos e principalmente na garantia de ter uma infância" disse Marília, professora e diretora da EMEF Luiz Gonzaga do Nascimento Jr., sobre as infâncias periféricas. Mas a complexidade do assunto se estende muito mais do que imaginamos, a Infância permeia “Discutir Infância é discutir maternidade, amparo a mulher, apoio a criança que não tem direitos, pois se não tiver um adulto que garanta isso ou um ECA que cuida do desenvolvimento delas, quem vai garantir?” completou ela.

O curso foi organizado e pensado com muito cuidado, o desejo de falar sobre o assunto é emergente na própria comunidade, “O Curso nasce através das demandas de Heliópolis e da UNAS, o recorte é falar da infância não de forma engessada, como já acontece. O nome Infâncias periféricas parte no plural para englobar os diversos territórios, com muito respeito a todas as infâncias, mas no projeto pedagógico vemos que há diversas infâncias, com muitos recortes, queremos falar do recorte periférico, das infâncias que existem em Heliópolis.” Disse Suze Piza, umas das grandes mentes por trás da pós e professora da UFABC, “Essa demanda foi muito reprimida por muito tempo, no cotidiano é importante pensar na realidade, no território. Colocamos diversas disciplinas que vejam as redes e os serviços do território, como dialogar onde essa criança vive, o difícil foi fazer com que esse projeto pedagógico único e plural do curso fosse aprovada, foram 7 meses até que ele fosse aprovada” indagou ela.

Crianças brincam pelas vielas de Heliópolis (Cacá Bernardes)


Mas o desafio ainda é maior do que pensaram, invertendo a lógica a extensão propõe um movimento contrário do que já existe (Favela - Universidade), a proposta é justamente levar a Universidade para dentro da Favela, tratando e refletindo as emergências do cotidiano ali vividas. “A Universidade é um equipamento público, funcionando como um tripé, ensino, pesquisa e extensão, quando fazemos essa parceria abrimos os olhos da Universidade, para que eles entendam que muito que é dado em termos de extensão é esmola então é preciso remoldar esse pensamento que o ensino é unilateral, fazendo o movimento contrário. Não é simplesmente esperar a Universidade vir, pois senão os professores, juízes e outras profissões que não sabem cuidar de gente, não tem humanidade, só a teoria da técnica.” detalhou Marília sobre o movimento proposto pelo curso, “A educação em um certo sentido se aproxima muito numa luta por justiça, tenho aprendido isso nos últimos anos, falar de educação é falar de uma revolução cultural, mas o questionamento é: Que mundo é esse que queremos produzir? Para muitas pessoas o pobre precisa perseguir o que o rico tem, ou seja, temos que dar a mesma educação que uma criança rica tem, mas não, o pobre tem muito a ensinar pros ricos, muitas coisas na experiência de vida, a resolução de problemas, as linguagens. Uma coisa aqui e ali que se assemelha, lógico como o mínimo, aprender a ler, escrever, somar…” detalhou ela ao pensar em trazer a Universidade para a comunidade.


O ensino que chega nas favelas chega a ser raso muitas vezes, e o estímulo de viver naquele território se esvai aos poucos, “As escolas têm que deixar a vida dentro delas, mas isso só vai acontecer quando a escola sair de suas paredes. O mundo precisa de técnica e de conhecimento, aí um cara da favela vai se formar e vira “Branco”, não volta mais para a comunidade para contribuir em nada. A volta de quem ascende é muito importante para o desenvolvimento coletivo, do território. A Universidade só estará cumprindo sua função quando conscientizar a pessoa para contribuir no local onde vive, enquanto ela não ajudar as pessoas a saírem de sua situação, mas voltarem para contribuir a Universidade não estará cumprindo seu papel.” Contou Braz Nogueira, professor e Vice-presidente da UNAS. Muito do que é dado também em termos de ensino para essas populações chega sucateada, é uma formação para se transformar em trabalho base, sem expectativas, o favelado diversas vezes é visto como mão de obra, por isso essa Pós é tão importante para que tudo isso mude, “Hoje temos doutores no Brasil que não sabem escrever, mas tem um saber, uma experiência enorme, esses pessoas sim deviam ensinar” completou ele.

aula da turma de pós graduação em Infâncias periféricas


Quando um professor se forma e vem dar aulas em uma comunidade muitas vezes um choque cultural toma conta do que deveria ser uma aula, “tem muito professor que vem da aula em Heliópolis e não consegue fazer uma leitura do território, acha que tá dando aula em Moema” falou Marília sobre o problema a distância da realidade de alguns professores e seus alunos, “A gente precisa ouvir essas famílias e crianças, o que ele quer ser, será que ele quer ser o cara do mundo corporativo? às vezes não, o que ele traz da sua cultura e experiência” indagou ela, já que todo ser humano adulto ou não traz sua bagagem histórica repleta de experiências “O principal muro que temos que quebrar é o professor, o adulto perceber que tem que ser parceiro dessa criança.” detalhou Braz sobre o assunto. Mas a ideia de trazer essa Pós graduação é que todos esses paradigmas sejam quebrados, que a escola também possa aprender com seu aluno, e que o ensino se transforme a partir das necessidades de quem precisa e não o contrário.


O curso é organizado em 4 módulos com 3 componentes curriculares e um projeto integrador em cada , em 18 meses com avaliações modulares, às segundas e quartas, e a diversidade dos alunos interessados no assunto é de abrilhantar qualquer olhar do futuro. Pessoas de diversas áreas da educação e outras áreas afins, juntos com vontade de aprender e compartilhar seus ensinamentos, suas experiências, “O curso contribui com a troca de vivências periféricas em diversos segmentos desde educacionais quantos os espaços informais, aqui estamos construindo uma teoria que é pouco estudada, por falta de conhecerem o que realmente são essas infâncias e nada como relatar para ser construída a teoria” Disse Indianara, Coordenadora Pedagógica do CCA Plácido, e a expectativa do conhecimento é enorme, Ane Peixoto Brandão, professora do EMEF Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. divagou sobre a experiência e expectativa de cursar a pós “Eu acho que vou ser uma pessoa mais consciente na hora de olhar um aluno e trabalhar com ele, vou entender melhor o perfil do aluno, a pós contribui com meu trabalho para ter um esse olhar mais de perto e não só um olhar da universidade”.

O processo da extensão é muito baseada no conceito de PRÁXIS de Paulo Freire, onde a comunidade entende suas ações e se entende também como sujeito oprimido, depois uma reflexão é levantada sobre ela pensando sempre numa melhoria, para que no fim a ação seja melhorada, diversos atuantes da área da educação que estão no curso com certeza irão seguir adiante querendo compreender o território onde está inserido o aluno ou atendido e o principal o reconhecimento daquele indivíduo com potência e totalidade, para que no fim as trocas sejam mais justas, e mais iguais. O Ministro Alexandre Padilha, foi muito certeiro ao rubricar a sua emenda para que o dinheiro fosse gasto em Heliópolis, quantas oportunidades a favela teria de compartilhar suas emergências e acima de tudo gerar conhecimento para uma Universidade? “Poder fazer uma pós graduação de qualidade e perto de casa, tanto numa forma de acessibilidade quanto no reconhecimento do espaço e arredores. A pós veio num tempo exato e necessário, estudava de forma independente, fazer a pós é focar nos estudos e aplicar no trabalho, depois dela vou ser uma pessoa mais articulada em relação a outras pessoas que trabalham e pensam em territórios periféricos, pensando na subjetividade da criança e adolescente que cresce na periferia, o que lhe é negado.” contou Juliana de Oliveira, Psicóloga do Projeto Violência Aqui Não Entra Não.


A ideia é que ao final do curso, quem se forme seja um multiplicador do conhecimento em seu espaço de atuação, “A expectativa é a criação de liderança com teórico prático além do que já é criado aqui” disse Suze sobre a expectativa do formando, “O desejo é que seja uma pessoa que se torne uma liderança no lugar onde ela trabalha, alguém se aperfeiçoe, espero que lá no final as pessoas possam transformar a teoria em suas práticas diárias.” Completou Marília sobre o formando. A pedagoga Elaine Silva de 34 anos, veio de São Miguel Arcanjo, interior de SP, para cursar a pós e nos revelou que “A pós vai me possibilitar ser mais do que to sendo, não ser mais que alguém, mas ser mais do que sou agora, espero que a aprendizagem do curso me dê condições para avançar numa pedagogia decolonial”.

Iniciativas como essa são um passo, um passo para quebrar muros da sociedade e do sistema educacional, muitos outros esperamos que venha a acontecer e que esse primeiro passo seja transformador, para quem sabe futuramente possamos criar um centro de formação popular dentro de Heliópolis, criando educadores populares, pensando na formação de cidadãos, gente que tem responsabilidade e autonomia, gente que irá entender que o problema de verdade são as paredes internas, as que separam o Homem da Mulher, o Preto do Branco, o Homo do Hétero, o Pobre do Rico temos que melhor nisso, todos temos que ter oportunidades, fazendo o professor entender onde ele tá, onde as crianças vivem e que possamos sim aprender com elas.


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