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  • Escrito por Wallace França | Editor Douglas Cavalcante

Intercâmbio reúne jovens das periferias do Brasil e Colômbia

Jovens moradores da favela de Heliópolis e comunidades do entorno participam de encontro na cidade de Buenaventura na Colômbia


Jovens pesquisadores do projeto Observatório De Olho na Quebrada, juntamente com uma comitiva composta pelos coordenadores e educadores do projeto e representantes da UNAS, participaram do Encontro Internacional na cidade de Buenaventura, região portuária da Colômbia, entre os dias 22 à 26 de julho. O encontro binacional é fruto do trabalho realizado entre organizações do Brasil, Colômbia e Suécia através do projeto Atalaias Sem Fronteiras: Jovens pela Paz.

O projeto Atalaias é o resultado de uma parceria internacional entre UNAS, Cormepaz (Corporação pela Memória e Paz), War Child e ForumCIV que iniciou suas atividades em outubro de 2022, possibilitando o começo de um trabalho voltado para os jovens da América Latina, que tem como eixo comum de trabalho, a pesquisa, a coleta de dados e a preservação e o resgate da memória em diferentes contextos sociais, políticos e econômicos. O encontro realizado em Buenaventura tem como objetivo possibilitar o intercâmbio de metodologias, culturas, conhecimentos, fomentando principalmente a chance do encontro entre juventudes como destaca Reginaldo José, um dos coordenadores do Observatório de Heliópolis.



“O Observatório de Olho na Quebrada é um projeto voltado para juventude de Heliópolis e região, onde fazemos um trabalho de pesquisa, coleta de dados e resgate das memórias e através da iniciativa do projeto Atalaias, começamos a ter esse contato com a equipe da Colômbia de maneira virtual e começamos a sonhar em poder fazer esse contato presencialmente. Fomos desenhando todo o processo, vendo as possibilidades até chegar a esse momento aqui em Buenaventura, onde foi possível trocar experiências, saberes, tecnologias sociais, agora com o parâmetro latino-americano. Estamos vivenciando momentos incríveis aqui em Buenaventura, vendo todo o trabalho desenvolvido pela Cormepaz aqui no seu território e está sendo muito inspirador. Agora temos a missão de levar para o Brasil, todo esse aprendizado, toda essa cultura, principalmente da memória e de valorização da ancestralidade.”



O Encontro Internacional começou a ser idealizado há muito tempo pela coordenação do projeto, e logo os jovens pesquisadores, começaram a sonhar com essa oportunidade de fazer sua primeira viagem de avião e ainda para outro país. Assim que o anúncio do encontro foi confirmado, uma grande empolgação e alegria tomou conta do Observatório, que mesmo com a participação por representatividade, todos se uniram para realizarem a melhor preparação para esse importante momento do projeto e de suas vidas.


Ana Carolina Cordeiro (18) conta com o sorriso no rosto, conta como foi ter sua primeira experiência internacional que propôs tantas trocas de vivências, que são distintas, mas que se encontram em muitas questões. “A experiência foi muito legal, primeiro no avião porque só tinha andado quando muito pequena, então foi muito legal a sensação do frio na barriga e de estar voando e estar aqui é muito incrível porque me senti em casa. As pessoas são muito acolhedoras, tipo todo mundo estava na mesma vibe e na mesma energia. A comida aqui é sensacional, a música, as danças e as histórias, gostei muito da cultura daqui e as pessoas tipo foi a coisa mais legal. Eu vou levar com certeza a alegria das pessoas daqui porque elas são muito radiantes assim, você sente a energia delas e a forma delas verem o mundo com muito mais alegria e felicidade. A forma de encarar a morte e ao mesmo tempo, promovem a luta de direitos e é isso que eu quero levar daqui. O maior aprendizado que levo é que a vida é feita de etapas e precisamos aproveitar ao máximo e por mais que sejam tirados de nós alguns direitos, a gente tem que lutar por eles sim e sempre lutar também pela memória das pessoas que passaram, por que essa luta é muito antiga, não deixando a memória delas morrerem, porque vida é isso, são as memórias que tem das pessoas.”


Dentro da grande programação estruturada e planejada pela coordenação do encontro, uma atividade começou aqui no Brasil e foi finalizada de maneira coletiva e colaborativa lá na Colômbia, com a proposta da criação de um mural que tem como mensagem, a integração entre nações latinas, suas similaridades e os seus pontos únicos e que marcam cada território e cada jovem. Essa atividade foi conduzida pelo Educador Sylvio Ayala, que destaca como foi surpreendente encontrar na Colômbia, a força da arte que tem como narrativa a cultura, as denúncias e as vivências do povo colombianos.

“Esse movimento de intercâmbio é muito precioso entre jovens do Brasil e Colômbia, entre São Paulo e Buenaventura. Esse movimento une pessoas e comunidades, de forma que a gente realmente caminha e percorre a nossa América Latina, valorizando a nossa terra e realmente fazendo parte. Essa nossa chegada, essa nossa mais que visita, representa um quebrar de fronteiras, uma maneira de estarmos juntos profundamente. Todos ficamos muito contentes ao chegar aqui e conhecer a arte nas ruas e nas casas e como o grafite e o muralismo é forte e presente, e permite que a população, principalmente os jovens, se expressem, desabafem e se coloquem. Realizar esse painel coletivamente é significativo, de maneira que deixamos um pouco de nós aqui e levamos um tanto do que tem aqui de alma, de riqueza e de humanidade para nós. A proposta do mural parte da nossa bandeira maior que são os direitos humanos, o respeito à vida e a valorização da memória dos que aqui estão e dos que já foram, é uma ponte entre gerações. A educação só se dá com o deslocamento.”


Antonia Cleide Alves, presidente da UNAS, participou do Encontro Internacional e teve a oportunidade de conhecer, junto com os jovens, lideranças dos territórios que foram visitados ao longo da programação, tendo a chance de conhecer não apenas a forma de atuação, mas principalmente, conhecer a história de luta dessas comunidades e as grandes dificuldades de um território que sofre com muitos conflitos a partir da violência, dos assassinatos e desaparecidos, e como o trabalho social é importante dentro desse cenário para transformar e esperançar.



“É fantástico estar aqui porque lá em Heliópolis são 47 anos de luta e chegar aqui na Colômbia e nas comunidades de Buenaventura foi muito importante, olhar nos olhos de cada representante e de cada coordenador foi muito fundamental e ver que por mais que estamos longe, mesmo sendo da América Latina, os problemas são parecidos e que o nosso povo precisa lutar tanto para poder sobreviver e ter uma qualidade de vida. Essas mazelas que eu vi aqui, no sentido da falta do governo ter mais atenção para as pessoas que mais precisam e que são mais necessitadas, é uma coisa que também acontecesse no Brasil, mas que a comunidade nunca está parada, sempre na resistência junto com os trabalhos das organizações como a Cormepaz e War Child, tornando fundamental para que a comunidade sobreviva a tudo isso. Senti uma grande conexão e saio daqui muito esperançosa que a luta é tão fundamental para sobrevivência humana e como isso é importante para as comunidades, para os jovens e para as nossas crianças. 



Durante as atividades, nos primeiros contatos, a barreira linguística foi um desafio, mas que foi superada pela vontade dos jovens em realizar as trocas durante o intercâmbio ao longo do encontro. Bruno Holanda (19) destaca como foi essa experiência e o que mais marcou durante o Encontro Internacional. “Participar das oficinas junto com os jovens da Cormepaz foi muito interessante onde precisávamos ultrapassar a barreira da língua, onde foi até um exercício engraçado, tentando falar mais devagar, incluindo um sotaque e repetindo sempre, mas foi muito legal ter essa interação onde pudemos conhecer os jovens de Buenaventura. O que mais me marcou nessa viagem e por conhecer o trabalho da Cormepaz é a questão do trabalho com a memória, de atuar com o recorte de pessoas desaparecidas o que é forte, mas que através do trabalho, torna-se algo importante. Precisamos estar cada vez mais dispostos a experimentar a cultura de outros povos porque só assim podemos entender um pouco mais da luta que elas têm, tentando viver um pouquinho desse exercício que já faz total diferença.”


João Victor Cruz (22), um dos primeiros pesquisadores do projeto e atual coordenador do projeto, traduz o sentimento que envolveu muito o sonho de realizar esse momento com as juventudes de Heliópolis e de Buenaventura e como essa experiência marca uma nova etapa para todas as pessoas que estiveram envolvidas na realização do Encontro Internacional.

“No começo isso era um sonho pra gente enquanto UNAS e Observatório, quando tivemos os primeiros contatos com a War Child, um sonho de trocar metodologias, vivências, esperanças e existências e trazer os jovens para Colômbia e ter essa oportunidade de mostrar e furar uma bolha. Mostrar para os jovens que o mundo é deles e que eles têm que conhecer esse mundo, pegar esse conhecimento e trazer para comunidade deles e isso é muito representativo para os jovens de Heliópolis e da região que vieram aqui para Buenaventura, aprendendo com outros jovens, com outras realidades e tendo essa visão que eles não estão sozinhos no mundo. Juventude é juventude em todo lugar só que em contextos diferentes e está sendo importante também para os jovens da Colômbia que está vendo que o trabalho deles é importante e que eles também não estão sozinhos e que eles estão nos inspirando também. Essa troca começou a princípio como um sonho, agora está se realizando e acho que não vai acabar aqui, a conexão que aconteceu é transformadora.”


Em novembro, uma comitiva da Colômbia, estará aqui no Brasil para que esse intercâmbio também tenha um desdobramento aqui na nossa realidade, podendo apresentar Heliópolis e os projetos sociais da UNAS para os representantes colombianos da Cormepaz e da War Child.


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