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Escrito por Gustavo Pinto | Edição Douglas Cavalcante

K9: Droga assola jovens da periferia de São Paulo

As drogas K (k², k⁴ e k⁹) tem cada vez mais assolado jovens das periferias de São Paulo, o químico chegou com um preço muito duvidoso, mas o valor que é cobrado chega a ser irrisório perto dos estragos que ela proporciona. Os usuários ficam em estado de “zumbi”, parece que realmente o cérebro chega a ser desligado fazendo com que o corpo não responda, isso são os efeitos imediatos, os a longo prazo ainda não há estudos sobre.

Essa substância foi criada inicialmente para o tratamento de doenças sem cura nos EUA, a fim de aliviar as dores e outros sintomas, mas os efeitos colaterais foram inúmeros. Daí empresários e oportunistas da indústria farmacêutica aproveitaram o momento e começaram a comercializar assim se popularizou. No Brasil a droga circula desde o início dos anos 2000, chega para que o acesso ao canabidiol seja mais fácil, e foi nesse momento que ela foi popularmente conhecida como “maconha sintética”, mas a popularização entre a juventude periférica tem causado fortes impactos sociais.


Pouco ainda se fala do problema, pouco ainda se tem de informação do que é e como enfrentar esse problema na sociedade, mas os K são mais de um tipo e mais de uma forma de ser consumido, o k², k⁴ e k⁹ nada mais são que líquidos que podem ser borrifados em mix de preparações como cigarros, sprays, tiras orodispersíveis (selos, tirinhas de “doce”), comprimidos, incensos, sachês e pot-pourri de ervas, sais de banho, borrifadores líquidos, papéis (sedas, folhas embebidas), aromatizador de ambiente, pó, cristal, goma de mascar, essência de vape (cigarro eletrônico), ainda sim é possível encontrar em forma de farelo para que seja feito um cigarro da substância. O líquido ainda é um mistério em sua composição e não tem nada a ver com a maconha, a única similaridade é a molécula de THC, que é uma das composições da planta Cannabis.


Os efeitos no corpo humano ainda são dos mais diversos, desde sonolência, inibição da fome, tontura, enjoos até mesmo o desligamento total do cérebro o impedindo de dar comando aos membros do corpo, além de outros problemas como rabdomiólise, taquicardia, insuficiência renal com o uso contínuo, e com a mistura com outros componentes como o “lança perfume” a morte pode ser iminente. O uso dela é como brincar de roleta russa os efeitos são sempre uma surpresa de caso para caso.


A droga sintética também pode ser conhecida como Spice e os efeitos podem ser conhecidos como “Piripaque do Chaves”, pela aparência em que o usuário apresenta após o uso. O valor chega a ser assustador por ser “muito barato”, ela varia de R$ 2,00 - R$10,00 dependendo da região onde é vendida, no Parque Bristol e Jardim São Savério bairros periféricos do fundão do Ipiranga, a droga pode ser encontrada por R$ 2,50 nas “bocas de fumo” da região. Os usuários ficam refém de diversos perigos após o uso como uma violência sexual, física ou um roubo, são inúmeros os perigos das ruas que a pessoa esta sujeita.


Os estudos feitos até aqui relataram que os usuários são jovens em situação de vulnerabilidade, que vivenciam bullying e são vítimas de racismo e ou violência devido sua orientação sexual ou identidade de gênero tendem a apresentar uma rotina mais intensa de consumo do sintético. “temos relatos de famílias onde expõem que o uso dessa droga serve também como inibidor de fome, a norma técnica disponibilizada pelo estado coloca os usuários com maior uso é a população LGBTQIAPN+, já que é uma população vulnerável, procuram fugir da sua realidade já que eles são sempre subjugados”, disseram Jaqueline e Daniele técnicas psicóloga e pedagoga do Serviço de Assistência Social à Família e Proteção Social Básica - Chico Mendes.


Para o estado brasileiro a substância ainda é um mistério e a rede de apoio onde os usuários deveriam ser tratados ainda está sem preparação para lidar com o problema. A SMS (Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo) divulgou uma nota técnica para que os profissionais se embasassem caso recebessem algum usuário em seu projeto ou serviço, mas a nota veio muito para elucidar dos riscos que o usuário pode chegar a apresentar, em suma a nota dá um direcionamento de acolhimento nesses casos e indica para que os usuários sejam direcionados para os serviços de saúde conveniados, apontando principalmente que os usuários devem ser atendidos e não podem sofrer nenhum tipo de rechação do profissional.


A ação atual da polícia é mais do mesmo, é tentar tirar essa população viciada do contato com a droga ou acabar com as casas bombas, que são os locais conhecidos pela produção da droga. “Enquanto proteção básica falta orientação, os debates e a norma técnica fala muito superficialmente sobre o tema, não é só entender o que é, mas como lidar, falta o entendimento também dos serviços sobre a função de cada um no problema, as articulações hoje são mais rodas de conversa, uma troca sobre os casos atendidos, mas o que mais falta mesmo é orientação” disseram Jaqueline e Daniele, que completaram “Muito desse uso é a manutenção da pobreza pelo preço, precisamos pensar na droga como uma doença, é preciso parar de marginalizá-la, não é um problema somente de saúde mas de toda a rede, como a assistência social, emprego, moradia, educação…é uma falha de políticas públicas no geral, não dá pra colocar numa caixa só e achar que o problema será resolvido de primeira, até porque quem fabrica está num Iate e não na rua”, a falha da rede é não estar preparada para este usuário, os serviços ficam um jogando para o outro, não sabem como tratar esses atendidos, não há propostas para eles, ainda é tudo muito raso até aqui.


Precisamos deixar claro que o químico não é maconha, por isso não pode ser associado com a luta pela legalização da mesma, os Ks diferente de outras drogas é um problema muito mais social do que qualquer outra substância, o acesso, o preço, os efeitos fazem parte de uma higienização social, ou se pensarmos a fundo pode ser associado com um corte químico social, a fabricação deste produto e a sua distribuição faz parte de uma movimentação social muito maior do que é possível imaginar, os jovens usuários, sim em sua maioria são jovens, estão sujeitos a cair no vício por uma manutenção de classe e outros grupos sociais, um projeto de marginalização dessa população.

“Aqui na medida os jovens que usam acabam perdendo todo o seu progresso e a abstinência faz com que eles infracionem novamente aumentando o que tem que cumprir, tirando que agride muito o físico deles, muitos emagrecem absurdamente, é pior que o crack” contaram Silmara e Andreia técnicas de pedagogia e assistência social do Serviço de Medida Socioeducativa em Meio Aberto Pq Bristol, que atenderam alguns jovens após o uso da substância no projeto. Os atendidos de nossos projetos que apresentaram o uso do químico precisam segundo a norma técnica ser direcionado para a rede, mas a própria rede indicada não sabe como lidar com o problema, está faltando orientação no geral para casos como esses “Os nossos atendidos que vão para o Caps nos falaram que lá tem atendimento com psicólogos e psiquiatras, mais as rodas de conversa, isso nós achamos pouco, não tem um plano de eliminação do uso, não há um tratamento adequado de saúde pública, o menino sai de lá e volta para o círculo social onde ele volta a usar, a rede não está preparada, isso é um problema da sociedade como um todo, o buraco é muito mais embaixo” relataram as técnicas do MSE.

Como foi apontado aqui, essa droga é muito mais prejudicial do que é possível imaginar e a rede de saúde e assistencial precisa de uma orientação maior por parte do governo, é preciso que as autoridades também entendam quem usa, quando usa e o principal, por que usa. Aqui na UNAS estamos articulando a rede de proteção social para juntos tentarmos construir alternativas de encaminhamento para esses jovens, O Serviços de Medida Socioeducativa Pq. Bristol e o Serviço de Assistência Social à Família e Proteção Social Básica - Chico Mendes junto às Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial, Centro de Referência Especializado de Assistência Social e Escolas Públicas têm se reunido todas as quinta-feira de cada mês em um fórum para dialogar sobre impactos e possibilidades de encaminhamentos, venha você também somar forças a esse coletivo.

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