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UNAS Heliópolis

Mais que um espaço cultural, Biblioteca transforma vidas em Heliópolis

Biblioteca Comunitária de Heliópolis vem promovendo importantes transformações na vida de pessoas da comunidade, e agora também está passando por uma transformação física em seu pequeno espaço dentro da Maior Favela de SP


Mesmo que a maior parte das bibliotecas tenham o mesmo recorte, prateleiras e empréstimos de livros, a Biblioteca Comunitária de Heliópolis é diferente, é uma biblioteca desde o seu início viva. Um espaço onde a literatura não precisa ser diagramada, não é preciso que ela esteja no papel, ela tem vitalidade. Vida esta que transforma vidas o tempo todo, como a vida de Lia, jornalista e biblioteconomista que hoje trabalha conosco, abrilhantando as contações de histórias, garantindo seu amor pelo projeto já que como ela mesmo diz “a Biblioteca mudou minha vida”.


Nossa biblioteca nasceu oficialmente em 2005, mas antes disso a UNAS já tinha uma salinha na escola de lata da comunidade com livros que foram aumentando tanto que já não cabia mais no local, não havia espaço para tantos livros e nem para o trabalho que vinha a seguir. Nesse período o renomado arquiteto Ruy Ohtake, desenvolveu em conjunto com a UNAS o projeto Identidade Cultural, uma parceria que resultou na revitalização artística das casas da Rua da Mina. Uma das preocupações do projeto era onde as crianças poderiam pesquisar e ler livros, daí o questionamento veio, porque não criar uma biblioteca em Heliópolis, já que a mais próxima fica a 6km da comunidade, no bairro do Ipiranga, após muita conversa nasce a Biblioteca Comunitária de Heliópolis em 10 de setembro de 2005.

Foto: Biblioteca Comunitária Heliópolis no ano de 2005 (Arquivo Biblioteca)


Já com um tempo de casa, a Gestora do projeto, Angela Ferreira, começou a identificar que a comunidade tinha uma visão muito padronizada de uma biblioteca, muitas não entravam pois achavam que poderiam incomodar o silêncio, ou que a literatura não era uma coisa acessível. Pensando nisso a UNAS começou a escrever alguns projetos para a biblioteca voltados para o teatro com contação de histórias, a musicalização e a dança, aliás as artes em geral, o único pré-requisito é que os projetos envolvam a literatura de alguma forma, ações que trouxesse o público para dentro da Biblioteca, essa movimentação fez com que a biblioteca se tornasse viva! “Eu vejo que a Biblioteca hoje é um coração dentro de Heliópolis, um coração que bate e pulsa dentro da comunidade, porque quando você passeia pelos livros, eles te dão a oportunidade de fluir em qualquer espaço, hoje trabalhamos com crianças, adolescentes, mulheres e idosos, tratando a representatividade e a ancestralidade. Aqui as pessoas dizem hoje que queriam morar no nosso espaço, aliás eu mesmo moraria, minha equipe também fala”. Disse Angela emocionada ao contar essa história.

Nesses quase 18 anos de história, Muitas pessoas passaram pela Biblioteca contribuindo com o trabalho excepcional realizado pelo projeto, algumas delas nos revelaram que o espaço os mudaram completamente e fez com que olhassem o mundo de forma mais colorida, com mais forma, esse é como o caso de Maria Aparecida dos Santos, de 53 anos, mais conhecida como Lia, a Jornalista formada em Biblioteconomia revelou que mesmo morando aqui sempre trabalhou fora da comunidade, por isso não conhecia nada por aqui a não ser as entradas e saídas para que pudesse trabalhar. Lia, fez o curso de Biblioteconomia há alguns anos e por desatenção acabou fazendo o TCC sobre uma biblioteca distante, uma daquelas clássicas que falamos aqui, vamos chamar de “diagramadas”, esquecendo da Biblioteca que havia aqui onde mora.


Após esse período Lia foi até o projeto e mostrou seu interesse em participar de alguma atividade desenvolvida ali, contou que era uma contadora de histórias em desenvolvimento mas que podia ajudar como pudesse. Algum tempo depois a pandemia se instaurou e a jornalista entrou num momento muito crítico de sua vida, com muito medo chegou a emagrecer e sintomatizar outras doenças por conta do seu psicológico. Foi nesse período que ela foi “salva”, através de um convite de Angela, que pôde, com cuidado, sair de casa e reviver o mundo à sua volta, “Eu trabalhei numa assessoria de imprensa que era o meu sonho, eu amei, mas a Biblioteca foi uma das melhores coisas que aconteceu comigo, ela me curou, ela me trouxe paz espiritual, equilíbrio emocional e me fez olhar a minha comunidade com outros olhos. Eu nunca tinha atendido uma criança na comunidade, nem abraçado nenhuma criança que fosse fora do meu convívio, foi aqui que pude conhecer realmente o que é amizade, equipe, solidariedade, a biblioteca pra mim é tudo!”, contou ela com sorriso largo por lembrar sua história.

A vida da Biblioteca pode trazer ânimo, disposição e o mais importante para Lia naquele momento, saúde. Ao sair de casa, ao olhar as pessoas, ao trocar e estar rodeada do que ama, a literatura, conseguiu se livrar do que ela mesmo chamou de “Covid Psicológica”, ela descobriu o poder de um acolhimento, a sensação de quebrar uma parede invisível entre o bibliotecário e quem frequenta o espaço, um momento que mais uma vez coloca a Biblioteca de Heliópolis como diferente, com uma vida própria, segundo ela “quando a Angela me disse que esse espaço é de acolhimento eu pude ser acolhida, pude entender que na comunidade existem muitas histórias que precisam ser ouvidas, pude entender também que quem passa lá e precisa conversar merece ser ouvido. A favela tem muita gente com diversos problemas psicológicos, principalmente pela falta de um acolhimento, então me faz feliz acolher, porque eu também sou acolhida” contou ela ao descrever o diferencial de trabalhar neste espaço.

Uma das limitações dentro do trabalho hoje da Biblioteca é o espaço, são diversas atividades desenvolvidas, e o espaço já não oferece tanto conforto, e há algum tempo precisa de uma reforma, ou melhor, de uma transformação. Hoje o espaço tem aulas de balé, oficina de teatro, saraus e contações de histórias, tirando todo o acervo que é aberto para a comunidade ou a quem precisar, por isso a UNAS vem buscando apoiadores que acreditam e investem na mudança social por meio da cultura, da arte e da educação. E neste cenário que o consulado da República Tcheca se aproxima da biblioteca para financiar a reforma do local, o projeto da biblioteca foi contemplado, ainda bem, em um programa do país europeu que tem fundos para investir em projetos sociais em países em desenvolvimento “fiz uma pesquisa sobre instituições no Brasil e conheci a UNAS, que apresentou um projeto para a reforma da biblioteca, o espaço tem um projeto único, que precisava ser transformado para continuar esse trabalho incrível que é desenvolvido aqui”. contou Vera Matysikova, do consulado Tcheco.

Para a comunidade a Biblioteca é um espaço de acesso, a literatura, a pesquisa, a arte, é onde você pode ser ouvido e pode aprender a ouvir sempre, lá é também um lugar onde existe possibilidades, a equipe está sempre de prontidão para tentar te ajudar se precisar, à quem diga que é um dos projetos mais afetivos mas para a comunidade “ela é muito boa para as crianças, meu filho frequenta com meus sobrinhos, tem muitas atividades lá, tem o ballet, o teatro, se a gente precisa de alguma coisa de impressão também eles ajudam, acho que pra comunidade a biblioteca é muito importante, traz vida pra onde a gente mora” detalhou Fabiana Pereira, de 35 anos e mora em frente a Biblioteca.

Hoje a Biblioteca atende todas as idades com projetos culturais sempre envolvendo a literatura, trabalhando sempre a representatividade, a ancestralidade e a diversidade, já que acreditamos que os livros são viagens multiversais, reais, utópicas e até heterotópicas, caminhando sempre com nosso princípio Tudo passa pela educação. “A Biblioteca é um lugar sem igual, é algo que todos precisam conhecer, pois ela é nossa, é diferente, é completa, é mais que uma biblioteca” complementou Lia sobre a importância desse projeto.

Se você chegou até aqui e quer conhecer a Biblioteca e o seu trabalho, ela tem previsão de reabertura para Setembro de 2023, mas mesmo em reforma as atividades continuam acontecendo em outros espaços, então não perca tempo se informe através do contato: (11) 91335-6027 ou por email em: biblioteca.unas@gmail.com, venha participar, conhecer, contribuir com esse espaço que é tão diverso e importante na maior favela de São Paulo.



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