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Escrito por Wallace França | Editor Douglas Cavalcante

Modelo de negócio sustentável impacta a realidade de mulheres costureiras em Heliópolis

Parceria entre UNAS e Hotel Ibis gera renda para costureiras da Maior Favela de São Paulo ao reaproveitar itens que seriam descartados


O Projeto Costurando a Renda é um espaço de formação e capacitação que nasce com intuito de gerar trabalho e renda para mulheres em situação de vulnerabilidade com a criação e atuação a partir da ação de um coletivo que visa contemplar o trabalho de todas participantes de maneira igualitária e sustentável. A oficina de costura onde o coletivo realiza os seus trabalhos, está localizada em Heliópolis e acontece dentro de um espaço da UNAS – União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região, que aporta o projeto e tem como principal objetivo, conectar empresas, parceiros e pessoas que possam criar relações de formação e de negócios com o coletivo Costurando a Renda.


Iracema Santos é uma costureira de 53 anos e participa do coletivo de mulheres há muitos anos e destaca a importância da formação que recebeu para que ela pudesse se descobrir em uma nova profissão, potencializando a sua renda familiar e tendo a chance de transmitir o seu conhecimento também para outras mulheres.



“Conheci e tive o primeiro contato com a costura a partir de um curso ofertado por um projeto da UNAS há 16 anos atrás, onde depois de muitos anos trabalhando em restaurante e de ter feito uma cirurgia no joelho, me encontrei no trabalho da costura. Costuro em casa, mas essa renda aqui do coletivo é muito importante porque me ajuda bastante e é muito gostoso falar que as peças que produzimos é a base da nossa renda. O meu desejo é ficar aqui no coletivo cem por cento, sem precisar de outros trabalhos. Para isso acontecer precisamos de mais encomendas, investimentos e parceiros. Fico feliz quando chega novos pedidos, tiro até fotos daquele monte de tecidos e que aos poucos vão sendo transformados em novas peças e sendo entregues. Venho trabalhar aqui com muita garra e carinho, com o coração aberto e com muita vontade de aprender novas coisas e também de transmitir o que eu aprendi para minhas colegas. Quando chega uma peça que eu não sei fazer penso comigo que vou conseguir, porque já estou aqui há muitos anos e encaro como mais uma etapa a ser vivida. Pedimos apoio uma para outra, pesquisamos na internet e vamos juntas aprendendo e evoluindo sempre.”


Ao longo de quase 15 anos de atuação, o trabalho do Costurando a Renda vem potencializando mulheres costureiras nas bases da economia criativa e solidária, encontrando em todo esse período, a necessidade de renovar as estratégias para continuar impactando a realidade das participantes e também da comunidade. Nessa nova etapa do projeto, uma ligação mais profunda de preocupação com o meio ambiente e com o reaproveitamento de materiais como tecidos, retalhos, espumas, que seriam descartados, gerando mais lixo para o meio ambiente, ganhou mais força, onde esses mesmos insumos tornam-se a matéria prima para reutilização desses materiais, transformando o que até pouco tempo seria descartado, em um novo produto reciclado com a criação de novas peças artesanais e prontas para uma nova finalidade.

Ângela São José, ponto focal do coletivo, nos conta como essa proposta surgiu e como as costureiras estão atuando dentro dessa nova demanda. “O projeto nos últimos 3 anos vem se fortalecendo porque optamos em focar em trabalhar com a sustentabilidade a partir da reciclagem. Como recebemos muitas doações de tecidos e retalhos, a gente decidiu utilizar justamente esse material onde poderíamos confeccionar novos produtos, agregando valor e também que dialogasse com as pautas que trabalhamos aqui na nossa organização. Quando recebemos uma doação, a partir de todo um planejamento, conseguimos organizar nossa produção para otimizar esses materiais, tendo esse foco no trabalho de articulação dentro do coletivo, mapeando quem são os nossos possíveis clientes, quem poderia adquirir as peças e qual seria a sua finalidade, o que está alinhado ao conceito de economia solidária e do trabalho em rede. Nosso primeiro produto foram as almofadas, onde essas peças poderiam compor os cantinhos pedagógicos, espaços de leitura, entre outros, e a partir daí começamos a encontrar o nosso público alvo que são as creches, escolas e bibliotecas. Dentro desse processo de reutilização dos materiais, precisamos receber pedidos que estejam ligados a essa ideia e foi dessa maneira que o Hotel Ibis chega aqui no coletivo, com uma proposta que vai ao encontro da nossa missão e do nosso trabalho.”


E foi a partir dessa nova etapa que o Costurando a Renda recebeu o contato do Hotel Ibis, que encontrou nessa iniciativa que fomenta a geração de trabalho e renda, que impacta positivamente o meio ambiente e toda uma comunidade, uma possibilidade de unir forças dentro de uma relação de negócios que está alinhada a todos esses valores.


Karine Maciel de Carvalho, atua no departamento de projetos da UNAS e destaca a importância da construção dessas relações entre projetos e parceiros.  “Recebemos o contato da Carla que trabalha no Hotel Ibis que nos contou a ideia de utilizar os lençóis e fronhas descontinuados pelo hotel para transformação em novas peças através do trabalho das mulheres que compõe o coletivo Costurando a Renda. Ela conheceu essa atuação pela internet e que fazia muito sentindo com a proposta que eles estavam buscando, dando início a essa grande e importante parceria. O papel do nosso departamento de projetos é justamente conectar parceiros e empresas com os projetos da UNAS, o que é super importante ter esse intermediário dentro da organização que tem diversas demandas e considero muito importante ter pessoas com essa expertise para conseguir intermediar, acompanhar e orientar todo esse processo. Ficamos felizes em receber essa grande parceria que está muito alinhada com a nossa missão e diretrizes enquanto organização social. Na verdade é o que sempre buscamos, criar parcerias que se encaixam. O que foi bem interessante é todo esse processo de nos conhecermos, enquanto organização social e que também fomenta negócios de impacto, conversando e dialogando bastante para que a iniciativa seja favorável para todos, desmembrando para mais possíveis ações em conjunto.”

Depois de tantos anos de coletivo, de muito trabalho, resiliência e de tantas chegadas e partidas, hoje uma sintonia de ideias foi estabelecida entre as participantes, favorecendo a chegada de mais parceiros e clientes que também estão alinhados com essas práticas, agregando e reconhecendo o valor de todos os produtos produzidos, buscando cada vez mais formação para todos os envolvidos nessa cadeia de negócio sustentável, despertando essa importância de cada pessoa dentro do coletivo e a importância desse coletivo para comunidade.


“A parceria do Hotel Ibis Budget Paraíso com o coletivo Costurando a Renda é um avanço significativo em nossa trajetória rumo à sustentabilidade. Transformaremos lençóis descontinuados em ecobags, promovendo não apenas a reutilização de materiais, mas também criando oportunidades e empoderamento de mulheres através da geração de renda e do desenvolvimento de habilidades. Acreditamos que cada pequena ação conta e que, ao apoiar iniciativas que respeitam o meio ambiente, estamos contribuindo para um futuro mais sustentável”, destaca Carla Gimenez, gerente geral dos assuntos relacionados a responsabilidade social, sustentabilidade e meio ambiente do Hotel Ibis.


Fortalecer o coletivo, manter o espaço em pleno funcionamento com ênfase na capacitação das mulheres, ter um maior alcance e divulgação dentro e fora da comunidade, encontrar parceiros que tenham um olhar como o do Hotel Ibis teve, ponderando o recorte do território, do desenvolvimento local e principalmente, acreditando no trabalho que é muito sério e responsável, são as grandes prioridades do coletivo. O sucesso desse novo e necessário modelo de negócios, será crucial para o avanço dessa iniciativa e de tantas outras ações. Maria Teresa dos Santos (65), costureira do projeto destaca como é possível contribuir com a geração de renda, reduzindo os impactos negativos do descarte a partir de ações estratégicas de sustentabilidade, visando parcerias que estão sincronizadas com os mesmos objetivos.



“Participo do coletivo Costurando a Renda há 5 anos e estamos muito felizes com essa nova fase do projeto que está nos aproximando cada vez mais de novas parcerias como o projeto das peças para o Hotel Ibis que tem o objetivo de estabelecer essa relação de negócio entre a UNAS, o nosso coletivo e o hotel que vai ao encontro do que já estamos fazendo que é a transformação de tecidos que iriam para o lixo, em novas lindas peças. A ideia é utilizar os lençóis e fronhas que não serão mais utilizados no hotel e com esses tecidos vamos reciclar e criar peças novas que são as ecobags. Selecionamos os tecidos, cortamos, sublimamos e depois costuramos a peça final que posteriormente será disponibilizada para os clientes do Ibis. Vamos reciclar esses tecidos, reduzindo os impactos para o meio ambiente de maneira sustentável, fortalecendo a nossa renda. Vai ficar linda essas bolsas e ficamos muito empolgadas porque é um produto que terá a nossa etiqueta, a nossa marca do Costurando a Renda, dando mais visibilidade para quem sabe novas parcerias. O primeiro pedido será de 150 peças e esperamos ter muitos outros.”

Iracema finaliza nos contando como esse processo realizado de maneira tão artesanal vem impactando a vida das mulheres do Costurando a Renda de maneiras jamais imaginadas por elas. “Fico feliz com tudo isso porque sei que estamos contribuindo para o meio ambiente, reciclando os tecidos e fazendo essas lindas peças artesanais. Sinto que estamos ganhando mais visibilidade e reconhecimento o que nos motiva para novos desafios. Hoje temos nossa etiqueta, nossa marca do coletivo costurada nas peças e isso é algo único nas nossas vidas.”

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