Os impactos da pandemia na mesa das famílias de Heliópolis
Para entender os impactos da pandemia no cotidiano de nossa comunidade, a UNAS, através do Observatório De Olho na Quebrada, está desenvolvendo uma série de pesquisas. Essas informações são de extrema relevância para denunciarmos a situação crítica em que estamos submetidos, bem como orientar as ações de proteção e estratégias de combate a pandemia desenvolvidas pela UNAS.
A pesquisa Saúde Alimentar na Pandemia tem como proposta evidenciar que o novo coronavírus não prejudica somente quem está doente, mas a comunidade como um todo. Essa pesquisa teve como objetivo compreender os impactos na mesa das famílias, em outras palavras, como está a saúde alimentar durante esse momento tão delicado
A pesquisa foi realizada via formulário online, respeitando as orientações de isolamento social. 711 chefes de família que vivem em Heliópolis responderam a pesquisa entre os dias 24 de abril e 29 de maio. Das chefes de família que responderam a pesquisa, 631 são mulheres (88,7%), 78 homens (11%) e duas preferiram não responder (0,3%). Importante destacar que a elaboração desse formulário contou com o apoio de pesquisadoras da área da saúde pública da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Os resultados aqui compartilhados também serão referência para estudos acadêmicos. Trata-se da primeira vez que produzimos dados que pautam a universidade, o que inverte a lógica tradicional das pesquisas acadêmicas. isso reforça a consistência do trabalho do Observatório De Olho na Quebrada. Além disso, conforme apontamos nas últimas pesquisas, as informações coletadas são direcionam a atuação da UNAS durante a pandemia, bem como subsidiam reivindicações por mais políticas públicas.
O perfil das chefes de família de Heliópolis chama bastante a atenção, são na maioria mulheres jovens e adultas, entre 18 e 39 anos (78%). Com renda mensal de até dois salários mínimos (80%) e escolaridade que varia entre o ensino fundamental e médio (90%).
Tratam-se de famílias que necessitam de apoio dos programas sociais, 23% delas é beneficiária do Bolsa Família. Durante a pandemia, com os impactos na economia e no emprego, a UNAS e outras organizações passaram a reforçar suas estratégias de proteção e assistência, entre elas a distribuição de cestas básicas. 58% das famílias entrevistadas está recebendo esse tipo de doação. A UNAS distribuiu, até o dia 19 de junho, 14.902 cestas em Heliópolis e nas comunidades do entorno.
A distribuição de cestas básicas é de suma importância, já que com a chegada do novo coronavírus pelo menos 68% das famílias de Heliópolis perderam alguma renda. Entretanto, ainda é insuficiente, já que 24% afirmam que em algum momento depois da pandemia sua família ficou sem alimentos. 67% afirma que precisou, pelo menos uma vez, diminuir a quantidade de alimentos em suas refeições diárias. Outro dado que chama atenção é de que apenas 58% das famílias está fazendo todas as três refeições diárias (café da manhã, almoço e janta) durante a pandemia. Esses dados reforçam a urgência de políticas públicas que garantam a segurança alimentar, em especial das famílias mais vulneráveis, durante e depois da pandemia.
Para além da distribuição de alimentos uma política de segurança alimentar adequada deve também garantir o acesso a alimentos de qualidade, já que apenas 46% das chefes de família consideram que sua família tem uma alimentação saudável e variada.
A ausência das políticas públicas de segurança alimentar, impactam a mesa e o planejamento das famílias: 89% afirma estar preocupado que os alimentos acabem antes de poder comprar ou receber outra doação. Sem a garantia de ter o que comer, como planejar outros aspectos da sua vida?
Realização: UNAS Heliópolis e Região | Observatório De Olho Na Quebrada
Apoio: Instituto Construção
Patrocínio: Open Society Foundations
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