UNAS promove seminário que potencializa o debate da educação popular em territórios periféricos
15º Seminário Heliópolis e região Bairro Educador reúne mais de mil pessoas em dois dias de evento
Educadores, lideranças comunitárias, estudantes, profissionais de diversas áreas, jovens e ativistas dos direitos humanos reuniram-se para o 15º Seminário Heliópolis e Região Bairro Educador, que se consolida como um importante espaço de múltiplos debates sobre educação. Impulsionados por uma mobilização coletiva, o seminário tem promovido reflexões e propostas para consolidação de um Bairro Educador, contribuindo também para que essas práticas populares sejam multiplicadas em outros territórios.
Esse importante evento foi idealizado pelas lideranças da UNAS Heliópolis e Região em conjunto com as escolas públicas do território, que há 17 anos atrás, reuniram-se e criaram o seminário que durante os anos seguintes, foi ganhando novos apoiadores e aliados. O seminário é dividido em dois dias de atividades, com uma Mesa Especial de Abertura e as Mesas de Debate. Esse ano o Seminário da Educação teve como tema central a "Educação Popular articulando redes de cuidados para a garantia de direitos” e contou com apoio institucional da Actionaid Brasil e da APEOSP.
Na noite da última quinta-feira (12) aconteceu a Mesa de Abertura na Quadra da UNAS, reunindo cerca de 300 pessoas. Uma noite especial que começou com a apresentação do Centro para Criança e Adolescente Heliópolis, que provocou a todos em relação às diversas violências que impactam diretamente o projeto da educação. Em seguida, Cleide Alves, Presidenta da UNAS e Braz Nogueira, Vice- Presidente da UNAS, saudaram os presentes fazendo um importante panorama do seminário ao longo dessas quinze edições. Depois desse momento de acolhida, diversas falas foram feitas por personalidades que somam forças dentro do processo que articula o debate relacionado a educação popular, que rege a jornada da UNAS, das escolas e da comunidade na construção do Bairro Educador. Um momento de união e de celebração que sintetiza o espirito do seminário, dando o tom para as Mesas de Debates. Marília de Santis, diretora da Escola Municipal Gonzaguinha, destaca a alegria de participar ativamente desse processo.
“A gente foi aprendendo a fazer e as pessoas foram se apropriando desse projeto que é muito coletivo e feito a muitas mãos, com muitas vertentes de atuação. Então essa comunhão de tanta diversidade na própria organização, faz com que ele seja muito rico de possibilidades e com debates abrangentes e profundos. Estou muito empolgada e é sempre um sofrimento porque queremos estar em todas as mesas, mas temos que escolher uma para ficar. Todo o processo de construção das mesas foi muito bonito e acredito que o resultado dessas discussões seja mais bonito ainda. Não pude participar o ano passado porque quebrei o pé e voltar para esse espaço é o que nutre a gente. Não dá para ser educador nesse país nas condições e contextos que a gente trabalha, sem ter essa força que vem desse amor e dessa organização que essa comunidade tem e que essa entidade UNAS nos traz. É um privilégio em poder trabalhar aqui, sou muito grata e me sinto mais potente e consigo fazer muito melhor o meu trabalho como diretora de escola pública porque eu tenho a UNAS e todos esses educadores do meu lado.”
Na sexta-feira (13) aconteceu de maneira simultânea, as sete mesas de debate do Seminário da Educação, sendo quatro mesas realizadas na Escola Municipal Presidente Campos Salles, uma na Escola Municipal Gonzaguinha, uma na Escola Municipal Doutor Abrão Huck e uma no CEU Parque Bristol. A distribuição das mesas no território de Heliópolis e também na região tem como objetivo, alcançar uma maior diversidade de participantes e também ocupando um maior número de espaços educacionais que são parte do evento e um dos principais focos desse trabalho.
Os temas debatidos na mesas foram bem diversos, tendo sempre como referência e ponto de partida o tema central do encontro: MESA 01 - Políticas de Cuidado; MESA 02 – As consequências do Racismo Estrutural nas periferias das cidades; MESA 03 – A pedagogia da participação popular: os movimentos sociais transformando o Brasil; MESA 04 – Direito à Educação sob ameaça; MESA 05 – O enfrentamento à falta de políticas públicas de assistência à criança e adolescentes vítimas de violação de direitos; MESA 06 - Primeira Infância, Educação Integral, Equidade e Inclusão no Bairro Educador; MESA 07 – Protagonismo Juvenil: O repertório cultural dos jovens do território.
Myrela Novais, pesquisadora do Observatório De Olho na Quebrada e coordenadora do Movimento Fala Jovem, destaca como foi participar da articulação e organização de uma das mesas do seminário. “O nosso trabalho de articulação para a realização da mesa foi muito rico porque trabalhamos em coletivo, colocando as juventudes no protagonismo desse debate, nos colocando em pauta. Foi algo muito grande porque mais do que os projetos da UNAS ligados a atuação com os jovens, conseguimos unir os Grêmios das Escolas e também a comissão dos CCA’s composta por adolescentes dos projetos, discutindo sobre os temas que direcionam a nossa mesa com essa participação e opiniões democráticas, ampliando os resultados da mesa para antes dela acontecer, durante o processo de debates e também para depois do seminário, onde esperamos ver nas nossas realidades, os frutos desse lindo dia de reflexões.”
Uma dos objetivos do seminário é proporcionar o contato com grandes debatedores que estão pautando práticas e estudos relacionados a educação, incidindo de maneira efetiva na discussão e também na escuta qualificada das pessoas que estão vivenciando essas demandas na ponta, somando e trocando novas informações que contribuam para o debate e novas possibilidades de melhorias como conta Maria Carolina, diretora do Departamento de Políticas de Cuidado da Primeira Infância e da Pessoa Idosa do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). “Foi muito importante estar aqui porque é uma oportunidade de trazer diretamente na ponta, diretamente para comunidade como que está sendo o processo de construção da Política Nacional de Cuidados e como isso se desdobra em ações concretas para a população. Então toda a chance que temos de contato para apresentar o que está sendo pensado e para receber um retorno, sugestões, pontos de melhorias, outras demandas que não temos mapeadas, é sempre muito importante. A UNAS tem esse papel importantíssimo de fazer essa mobilização em Heliópolis e conseguir proporcionar o diálogo da população e dos trabalhadores que estão aqui diretamente com o Governo Federal e essa é uma ponte muito importante e a UNAS faz isso de maneira brilhante.”
A participação nas Mesas de Debate foi um verdadeiro sucesso de inscrição e de participação, onde todas as vagas disponíveis foram preenchidas, onde a cada mesa era evidente como os temas foram ao encontro das demandas, com um rico e expressivo grupo de debatedores que abrilhantaram ainda mais as discussões, facilitando os diálogos através da grande experiência. Kiusam de Oliveira, escritora, professora, doutora em educação e mestra em psicologia detalha a experiência de partilhar os seus conhecimentos e de receber tantos retornos em relação ao seu trabalho como escritora e especialista em educação na trajetória de tantos educadores.
“Eu quero falar do orgulho e do prazer que eu estou sentindo nesse momento após o término dessa mesa, dessa roda de diálogos tão importantes em que a gente se entende e entende a importância de ser e estar politicamente porque o nosso corpo é sim político. Então estando na dança, na literatura, estando como professora na educação, como educadores sociais na educação formal ou informal, nosso corpo continua sendo político. Pra mim estar nessa mesa foi a coisa mais incrível porque consegui falar de literatura sem diretamente falar de literatura e aí eu me lembrei o tempo todo de um conceito que eu consegui trabalhar mais recentemente nos últimos anos teoricamente, mas que eu desenvolvi com 8 anos de idade, quando falei para minha mãe que eu sabia ler todo o corpo, porque todo corpo é um livro e as pessoas aqui presentes conseguiram ler o meu corpo completamente e entenderam como eu me posiciono na minha literatura, tendo esse alcance para tantos educadores, mas principalmente para crianças, adolescentes e toda uma comunidade.”
São 15 anos de uma trajetória muito importante para a educação popular dentro de territórios periféricos, que encontraram na união coletiva, nos educadores, nas lideranças e organizações sociais, na partilha de conhecimento e na inquietação por melhorias e por uma revolução na educação para construir o Bairro Educador, que esse trabalho sério e robusto, ganha força a cada ano e vislumbra novos caminhos e grandes avanços. Isso é possível graças ao empenho também de outras organizações que continuam apoiando e acreditando nesse trabalho como destaca Gabriela Ângelo, especialista de Direito das Mulheres da Actionaid Brasil. “O sentimento é de muita alegria e força de ver a potência de Heliópolis para produzir conhecimento e novas metodologias antirracistas. Isso é muito importante e todos aqui têm esse trabalho extremamente qualificado tendo às juventudes dentro dessa construção e a frente, tendo crianças como sujeitos de direitos na produção dessas novas metodologias e isso é uma referência e uma inspiração para todo Brasil e até internacionalmente. A Actionaid entende que a educação é a espinha dorsal para se pensar a transformação e equidade de gênero e étnico racial e ter a UNAS como parceiros é uma grande satisfação e alegria, principalmente para fazer esse trabalho de rede porque acreditamos nessa articulação, como vemos por exemplo aqui no seminário. Acredito muito nos espaços de diálogo e na construção coletiva para pensar políticas publicas e educacionais, pensar o enfrentamento da violência de gênero e raça, e ter esses espaços qualificados para a gente denunciar, ter esses diagnósticos de violação e sermos propositivos, é o que define o Seminário da Educação."
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